COMPANHIA CINEMATOGRÁFICA VERA CRUZ


ESTÉTICA

Vera Cruz e a Burguesia Paulistana: parceria para uma nova estética

Em 1949 e 1950 foram criadas cinco cias. Cinematográficas e nos três anos seguintes a quantidade de produtoras ultrapassa a casa dos vinte. Esta indústria cinematográfica paulista surgiu num momento de intensa atividade cultural em São Paulo. Em pouco tempo a cidade assiste ao nascimento de dois museus de arte, à formação de uma cia. teatral de alto nível, à multiplicação de concertos, escolas de arte, conferências, seminários, exposições, revistas de divulgação artística e cultural, à construção de uma grande e moderna casa de espetáculos, à criação de uma filmoteca, à inauguração de uma bienal internacional de artes plásticas. A Vera Cruz surge nesse momento em que a burguesia se interessa intensamente pelo mecenato cultural.
Essa burguesia é constituída principalmente pelas grandes levas de migrantes rurais e imigrantes que se dirigem a São Paulo inspirados pela redemocratização após o fim de Estado Novo. As atividades econômicas que antes pertenciam ao Estado passam a ser dominadas pela burguesias. O capital cafeeiro se transfere para a área industrial abrindo espaço para que esta classe, por algum tempo, passe a dominar o desenvolvimento econômico do país.
Investir em cinema nacional assim como em outras manifestações culturais foi a forma que os burgueses encontraram de convencerem a si próprios de seu vigor econômico.
Além da ascensão econômica, outros fatores contribuíram para que a burguesia apoiasse a criação da Companhia Cinematográfica Vera Cruz: O renascimento do cinema no pós-guerra e em inúmeros outros países deixando que a produção internacional fosse privilégio dos clássicos centros produtores como os EUA, França, Itália, Alemanha e URSS, além disso, há também a "novidade sociocultural" representada pelos festivais internacionais de cinema, que estimulavam os novos países produtores.


O MAM, em 1950

 

"Em São Bernardo (...) A Técnica Mais Moderna a Serviço do Cinema Nacional"

A total desvinculação da Cia. Vera Cruz com o cinema existente exige que seus idealizadores organizem toda uma infra-estrutura de colocação do produto cultural (filme) no mercado. Isto foi necessário para que o cinema não fosse mais considerado uma atividade marginal e para que o trabalho sofisticado e dispendioso não fosse perdido.
O mercado exterior sempre foi um grande sonho do cinema brasileiro. O primeiro passo para que se pudesse alcançar tal objetivo seria a consolidação em bases estáveis da nossa indústria cinematográfica. Cinema se faz com bons técnicos, bons artistas, maquinaria adequada, grandes estúdios e dinheiro; a Cia. Vera Cruz tinha tudo isso.
A Vera Cruz construiu suas instalações em moldes hollywoodianos: três estúdios pilotos, com área aproximada de 1.800 metros quadrados, inteiramente sonorizados para filmagem direta; oficinas de marcenaria, carpintaria e mecânica, funilaria, costura e tapeçaria e equipamentos de sonorização e filmagem, todos importados. Esta foi a maior carga aérea da época vinda para a América Latina; todos estes equipamentos e instalações estão avaliados em cerca de 30 milhões de cruzeiros.
Assim como os equipamentos, a equipe técnica também veio do exterior (a maioria), pois tinham maior experiência desenvolvida no cinema europeu, um deles foi Alberto Cavalcanti, o patrício que se ilustrara no cinema francês e inglês. O lema da Vera Cruz era "Produção brasileira de padrão internacional" .
Além das qualidades dos técnicos e da infra-estrutura arrojada a Vera Cruz contava com um eficiente departamento de publicidade com um noticiário para cerca de setecentos jornais e revistas de todo o país e de alguns outros países.
A total desvinculação dos fundadores da Vera Cruz com a produção corrente da época demonstra que estes possuíam uma consciência dos problemas de mercado; eles não viam o cinema apenas como forma de arte, mas sim já passando a vê-lo como uma indústria séria e com bases sólidas.

Fonte:
• RAMOS, Fernão (org.), "História do cinema brasileiro", Art Editora, 1987
• GALVÃO, Maria Rita, "Burguesia e cinema: o caso Vera Cruz", Editora Civilização Brasileira Embrafilme, 1981.
• GOMES, Paulo Emílio Sales, "Cinema: trajetória no subdesenvolvimento", Editora Paz e Terra, 1980.


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